Poucas vezes antes tinha sentido fortemente um choque cultural. Talvez por ter nascido e crescido em meio a um choque cultural: sou de uma família coreana no Rio Grande do Sul participando de uma igreja luterana com forte influência germânica. Assim, sempre fui mais resistente aos choques culturais. Eu mesmo era e sou um choque cultural ambulante.
Mesmo em momentos como a Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas, em que trabalhei com aproximadamente 140 jovens de TODAS as partes do mundo, não senti muito forte o choque. Estávamos todos trabalhando, tínhamos nossas diferenças, mas também não foram tantas relações de fato aprofundadas. E o óbvio também acontecia: pessoas com mentalidades mais parecidas se aproximavam mais, afinal a oferta de possíveis amigos era farta. Ano passado, quando fui à Suíça, as diferenças culturais inclusive me agradaram. Curiosamente, meu amigo suíço Daniel, que me hospedou, tinha uma mentalidade em muitos aspectos bastante parecida com a minha. O mesmo posso dizer de Tobias, amigo de Daniel, e de Alena, esposa de Daniel. Isso certamente explica também porque no final de uma semana parecíamos amigos de longa data. Senti-me mais em casa em Berna do que em São Paulo.
Certamente, meu primeiro grande choque cultural, mas não apenas cultural, foi minha mudança pra São Paulo. Mas muito de meu mal-estar em São Paulo estava associado às outras mudanças advindas: sair de casa, afastar-se da minha namorada da época, estudar como um cão no mestrado, círculo de amigos bastante restrito e, não menos importante, a disparidade estética média entre as mulheres paulistanas e as porto-alegrenses. Claro que há mulheres bonitas em São Paulo, mas não preciso dizer quem leva grande vantagem no placar quando falamos de média. E na verdade, aqui em São Paulo, continuo perambulando como um choque cultural. Dentro do Brasil, meu fenótipo é muito mais associado ao paulistano do que ao gaúcho. O sotaque (que é fraco mas às vezes aparece), a camisa do Grêmio e o chimarrão são motivos de espanto muitas vezes.
Apesar da minha resistência, da última vez que tive contato maior com estrangeiros, senti mais forte o choque. Recentemente, duas intercambistas da Igreja (Luterana) da Suécia estavam trabalhando em Santo André, cidade aqui ao lado. Elas eram muito divertidas, mas os escandinavos são notoriamente diferentes de nós. Não que os suíços ou alemães não sejam. Mas talvez por elas estarem em nosso território, as diferenças fiquem mais claras. Jenny e Elin, embora muito legais, me mostraram um pouco das absurdas diferenças de mentalidade de um povo etnicamente e homogêneo que vive em clima e instituições completamente diferentes das nossas. Era difícil entender ou digerir algumas coisas que elas diziam. Afinal, como entender que uma sociedade veja com naturalidade festas que ocorrem em saunas, com pessoas peladas e cervejas geladas? Talvez os brasileiros sejam apenas falsos conservadores hipócritas, mas a sensação de pertencer a um outro mundo foi grande, algo que eu sentira poucas vezes antes, embora tenhamos nos divertido bastante.
Eu e as suecas passeamos por São Paulo e fomos a um jogo do Corinthians com alguns outros amigos. Momentos em que conversamos bastante. Não eram como os 140 jovens na Assembléia, entre os quais eu podia procurar os que mais tinham cabeças mais parecidas com a minha. Não era como o Daniel na Suíça, que discutia teologia, política e economia comigo, além de ter visões surpreendentemente parecidas com as minhas em vários assuntos. Eu tive ótimas conversas com as suecas e foram dias realmente edificantes: acho que me dei bem muito bem com elas além de tudo. Mas eu não posso negar que senti um pouco do choque. Faz parte.
Um comentário:
sem comentarios a parte da comparacao entre as mulheres paulistanas e gauchas
:P
Postar um comentário