segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Raiva Contida

Só pra informar que devolveram-me os 2 mil reais que gastei, quero dizer, gastaram em meu nome na loja de lingeries.

Mas ando meio azarado ultimamente. Ocorreu na semana passada o fato. Era noite e estava voltando pra casa, caminhando calmamente pela rua. Uma senhora, acompanhada de seu cachorro, conversava com sua vizinha. O cão, que não tinha mais do que 30 cm, tentou rosnar ameaçadoramente ao me ver. "Bah, que medo, esse cachorro do tamanho de um rato", pensei. Quando eu passei por ele, nhec! O miserável me mordeu. A dona dele pediu desculpas e eu aceitei, uma vez que a mordida tinha sido bem fraca (aquele filho de uma cadela xenófobo mal devia ter dentes).

Quando cheguei em casa, vi que havia só um ponto de 1mm de diâmetro em que aparecia sangue timidamente. Nada jorrando, escorrendo ou coisa semelhante, a pele praticamente intacta. Como minha irmã é médica, resolvi avisá-la. Péssima idéia. Ela começou a falar pra eu fazer um monte de coisas pra eu não pegar raiva: ir no posto, ligar pra sei lá quem, ir pro hospital, etc., além de começar a me xingar (ok, eu a provoquei tratando-a asperamente). Até aí ela tinha razão de fato. Mas o pior foi que a minha mãe estava ouvindo a conversa. Meus colegas começaram a comentar sobre a possibilidade de eu começar a babar raivosamente e matar todos eles. Mamãe desesperada me ligou às 7 da madrugada do dia seguinte no celular (interurbano) umas 8 vezes, até acordar toda a casa. Tudo isso pra avisar que eu não deveria tomar chás ou coisas parecidas antes de tomar vacina anti-rábica (uma recomendação sem o menor fundamento médico ou popular, nasceu de sua criatividade - pelo menos herdei algo disso). Sei que ela me ama, mas ela paranoicamente me ligou (dessa vez apenas 7 vezes) no meio de uma aula à tarde. Eu sistematicamente desliguei na cara dela 6x (eu tava em aula), mas ela não entendeu. Atendi raivoso (não por causa da doença), mas respirei e pedi que ela não ligasse mais.

Passei no hospital universitário. Duas horas de espera. O médico olhou pra mordida e quase disse que, dada a descomunal força da mordida, a probabilidade de eu começar a babar raivosamente era da ordem de 10 elevado a -6256257. Não foi suficiente pra convencer as mulheres de minha família. A essa hora imaginei a cabeça de meu pai latejando. Ele praticamente nem falou comigo durante esse tempo. Só disse que não agüentava mais minha mãe comentando a respeito de raiva e do que ela tinha procurado no google a respeito. Finalmente, minha irmã leu em algum lugar que dizia ser muito difícil eu ter raiva com uma mordidinha daquelas. Ela se convenceu. Só disse pra eu procurar o cachorro pra ver se ele continuava saudável. Se ele estivesse doente, eu deveria tomar a vacina. Eu não lembrava mais em qual casa tinha sido, era noite. Procurei e não achei. Ela me disse pra bater em todas as casas da vizinhança. A essa altura, meus colegas se perguntavam porque eu ainda não tinha inventado uma mentira a respeito.

Finalmente minha irmã se cansou. Reclamou que a mãe tava ficando doida com isso e que iria colocar calmantes na comida dela. Teria minha mãe dito que iria até São Paulo resolver a situação. Quando na manhã de ontem eu tinha praticamente, após muita relutância, decidido inventar uma mentira pra minha mãe (pra chegar nesse ponto eu tava muito transtornado), lá estava o cachorro. O desgraçado andava calmamente pela rua cheirando os postes. Tava vivo, mas confesso que tive o sentimento pouco cristão de chutá-lo como faria um zagueiro com a bola dentro da pequena área. Mas passou a vontade.

Rapidamente, mandei uma mensagem pra minha irmã. Na resposta dela deu pra sentir o alívio. Minha mãe ligou à noite e disse que agora podia dormir tranqüila. Meu pai então assumiu o telefone e perguntou se tinha acabado tudo, seja lá o que tinha acontecido. Eu disse que sim e tudo voltou ao normal. Minha mãe não precisa vir pra cá. E que o cachorro continue vivo.

Embora minha probabilidade de morrer ainda deva ser expressa em notação científica, só queria dizer que, caso aconteça um desastre, adorei conhecê-los e que Deus esteja sempre com vocês. E que Ele me perdoe por ser tão impaciente com a minha família, que no final só faz isso porque se preocupa comigo.

3 comentários:

Wander disse...

Pô, Kang, nem pra confiar nos anti-corpos, haha

Unknown disse...

huauhahuauhauh, bons tempos em que se chutavam animais sem culpa na 1ªDL.....esse merecia.
Mas mto boa a história, uheuueh

Jenny Linder disse...

Ok, Thomas, we are going to read your blog and try to understand everything... But it looks nice, though!

Jenny & Elin