segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma ficção chamada Barcelona

La Rambla de Barcelona é um lugar que não dorme. Pessoas de todas as nacionalidades caminham por La Rambla durante o verão catalão em quantidades até um pouco irritantes. O emaranhado de pessoas é um problema pra quem carrega malas com rodinhas potencialmente atropeladoras de sandálias alheias. As bancas, abertas até durante a madrugada, estão cheias de bugigangas e souvenirs, sendo que metade é relacionada ao Barcelona F. C.

Sair de La Rambla e chegar a Plaza Catalunya já significa um pouco mais de calma. Não é à toa que Barcelona é uma das cidades turísticas prediletas de muita gente. Movimento do porte eu só tinha visto em Praga, famosa por belas construções antigas e cervejas baratas. Mas em Barcelona, o que atrai são justamente as construções modernas no sentido artístico. O famoso arquiteto local Gaudí deixou uma infinidade de obras bizarras. A Igreja da Sagrada Família, mundialmente conhecida, é apenas um dos devaneios do arquiteto. O Parc Güell levanta também dúvidas sobre a sanidade mental do seu autor, assim como a Casa Battló, que definitivamente gera suspeitas sobre os possíveis alucinógenos preferidos de Gaudí.

Nos primeiros dias fiquei em um pequeno albergue bastante calmo, onde rapidamente fiz uma amiga canadense. Arrastei a pobre coitada até o Camp Nou, estádio do Barcelona e que significa simplesmente “campo novo” no curioso idioma local, o catalão. O preço de entrada no campo era tão salgado quanto entrar na igreja do Gaudí: uns 17 euros. Obviamente, ficamos nas circunvizinhanças, uma vez que a canadense também curiosamente estava no aperto financeiro.

Decidimos então ir à praia sentar um pouco e não pensar em coisa alguma. Em alguns dias, eu teria um congresso na Universitat Pompeu Fabra. Precisava aproveitar meus últimos momentos de folga. Quando chegamos à praia, eu tinha esquecido que as européias de fato praticam o topless. Perguntei para a canadense que estava comigo se ela aderiria à moda local, mas a resposta foi decepcionante. Entretanto, de jovens a vovós, cerca de metade das mulheres eram adeptas da prática. Talvez as vovós não devessem aderir devido à imoralidade estética que causavam.

Um pouco adiante, um rapaz dava algumas leves palmadas no seio direito de sua namorada, como se fosse um pequeno balão, apesar dos protestos da bela moça (cuja histeria em espanhol lembrava a da personagem representada por Penélope Cruz em Vicky Cristina). Enquanto eu contemplava o mar com certa tranqüilidade, já mais acostumado à situação, duas jovens moças locais sentaram-se de frente para nós a fim de bronzear as costas. Conversando, tiraram a parte de cima de seu biquíni a um metro e meio de mim, como se fosse (e pra elas era) a coisa mais natural do mundo. E ali ficaram, enquanto eu fazia cara de parede.

Tinha marcado conversa pela internet com alguém e precisava voltar para o hotel. Pegamos nossas trouxas e voltamos. Saí de uma ficção e fui para uma outra chamada internet.

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