No frio e no escuro, fui em direção à plataforma do trem na estação de Fulda, alguma cidadezinha no meio da Alemanha. Dois oficiais da Deutsche Bahn conferiam os bilhetes dos poucos passageiros do trem noturno em direção à Praga, capital da República Tcheca. O trem era antigo, mas como estava praticamente vazio, deitei-me com certo conforto sobre meu próprio mochilão. Já tinha passado da meia-noite, mas eu só chegaria em Praga às 8 da manhã, após uma surpreendente tranqüila noite de sono.
Já havia amanhecido, mas a estação de Praga conservava ainda uma iluminação turva. É como se os anos de comunismo tivessem deixado marcas impossíveis de se apagar. Por um momento, lembrei-me do livro do autor tcheco Kundera, que lera recentemente. A estação de Praha Holešovice não era moderna como as da Alemanha e em quase nada ajudava um pobre turista a encontrar o metrô para ir à estação central de Praga (em tcheco, Praha hlavní nádraží). Consegui, após alguma luta, comprar dinheiro tcheco e ligar para uma de minhas amigas que me esperavam na estação central. Contei-lhes da minha aflição em não entender uma palavra daquela estranha língua: era a primeira vez que de fato eu me deparava com uma língua eslava. Ainda que o alfabeto não fosse cirílico, de nada adiantava eu conhecer as letras quando oito consoantes e uma vogal juntas formavam uma palavra pronunciável (pelo menos os tchecos diziam que era pronunciável e eu ingenuamente acreditei neles).
A República Tcheca não é pobre, apesar da impressão deixada pela estação de trem. Segundo contaram minhas amigas tchecas, eles são algo entre a Europa Oriental e a Europa Ocidental, tanto em questões culturais como em questões de renda. Os palácios e antigas construções de Praga são extremamente bonitos: tudo conservado nas melhores condições. Conseqüentemente, o fluxo de turistas é imenso. Em geral, um bando de italianos gesticulando e falando alto, como é típico deles: aquela entonação característica, as vogais bem abertas com um ligeiro cantarolar irritante para alguns, maravilhoso para outros.
Conhecer os belos prédios tchecos, que não foram destruídos por guerras como aconteceu na Alemanha, é algo que vale bastante a pena. A estátua do famoso pré-reformador Jan Hus acima na foto é a prova disso. Mas ter guias simpáticas de lá sempre ajuda, principalmente se são suas amigas. Com elas, fui até para um culto da igreja protestante tcheca. Na Suécia, sabendo algumas regras de pronúncia era possível cantar os hinos. Na República Tcheca, não. Preposições como “z” não são pronunciáveis na minha cabeça, muito menos acentos circunflexos virados de ponta-cabeça em cima de consoantes. Mas para eles é: minha amiga Martina não escondia o riso em relação à minha dificuldade. Chegado o momento da pregação do pastor tcheco, achei que era um excelente momento para observar a arquitetura da igreja.
De qualquer forma, gostei muito de Praga. Minhas outras amigas Žaneta e Ester tinham alguma dificuldade no inglês, mas a gente se comunicava do jeito que dava, com a ajuda da Martina. Por duas vezes, sentamos para beber algumas das famosas cervejas tchecas. Embora eu não seja exatamente um cervejeiro, “breaco” (como dizem os paulistas), ébrio ou qualquer coisa parecida, a verdadeira cerveja Pilsen, a Pilsner Urquell, tem um excelente gosto amargo e característico. A Budweiser tcheca é muito, mas muito melhor do que a Budweiser americana. Com amigas, construções antigas e bonitas, e boas cervejas, fica fácil querer voltar pra Praga.
Um comentário:
Bacana, um dia quero ir a praga. Virei leitor do teu blog agora, hehehe. Parabéns, tá muito bom !
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