domingo, 21 de março de 2010

Tortura

Lembro de certa vez, aos 12 anos, visitar uma exposição sobre tortura. Havia instrumentos ou réplicas deles de diversos tipos. Particularmente chocante foi ver uma enorme estaca, cujo objetivo fora a prática do empalamento há centenas de anos. De acordo com a explicação, o empalado era colocado na estaca através do ânus e não morria instantaneamente. Às vezes a pobre criatura demorava mais do que um dia para morrer de hemorragia, pelo menos na versão dos assírios, povo que tinha certo gosto por empalar prisioneiros de guerra e expô-los defronte as cidades que pretendiam invadir.

A partir dessa experiência (de ter conhecimento desse fato, não de ser empalado), compreendi o absurdo que é a tortura. Infelizmente, outras formas de tortura continuaram sendo praticadas em alguns lugares (inclusive em ditaduras que ainda hoje persistem). Por outro lado, muitos passaram a utilizar métodos menos dolorosos de execução. Em especial, lembro do uso das guilhotinas na Revolução Francesa no final do século XVIII. Em um livro comemorativo do segundo centenário da Revolução, li quando criança que o médico Guillotin propôs o uso da guilhotina por motivos humanitários: ela proporcionava uma morte mais rápida e menos dolorosa e, assim, a guilhotina se tornou um instrumento famoso (e excessivamente usado) na Revolução. Em relação aos assírios, era uma grande avanço, embora o próprio Guillotin tenha sido executado pelo instrumento, assim como também famosos cientistas como Lavoisier.

Em um momento em que a pena de morte não era discutida, a sugestão de Guillotin parece ter sido uma melhora substancial. Se a morte era inevitável, a guilhotina era talvez uma das formas menos dolorosas. Embora eu seja contra a pena de morte, acredito ter sido bom alguém ter inventado a cadeira elétrica. Pelo mesmo motivo, repudio veementemente toda forma de tortura, que mata lentamente e dolorosamente, como se a vida humana não tivesse qualquer valor - por pior que tenha sido o crime cometido.

Alguém bastante pessimista já disse que a vida é um constante morrer. Outro já disse que começamos a morrer quando nascemos. A pergunta que fica é: porque às vezes nos matam aos poucos quando clamamos por um tiro de misericórdia? Quando estamos sendo empalados, a guilhotina se torna muito simpática. Entretanto, mesmo involuntariamente devido a alguma análise míope, somos empalados e definhamos aos poucos. E eu não estou falando de eutanásia.

Às vezes, peço pela guilhotina ou pela absolvição. Quando existe esperança, é a possibilidade de absolvição que às vezes nos motiva a aguentarmos a tortura. É a esperança que Deus nos conceda novamente vida abundante.