sábado, 25 de julho de 2009

Solidão na escuridão

Dias atrás, despedi-me novamente de Porto Alegre. Os momentos antes de chegar ao aeroporto são sempre um pouco depressivos. Chegar em São Paulo e ver aquela multidão correndo com pressa aprofunda o sentimento de não pertencer àquele lugar. Mas pior do que isso é chegar e, logo em seguida, perceber que cortaram a energia elétrica de seu apartamento.

Coloquei o laptop na tomada e nada. Interruptores, lâmpadas, nada funcionava. Finalmente a chave geral: tudo como deveria estar, mas sem luz. O zelador me esclareceu o que ocorrera: o antigo inquilino mandara cortar a luz e retirar o nome dele da conta. Quando nos mudamos para o apartamento, a luz não havia sido cortada. Tentamos pagar a primeira conta, mas a caixa do banco avisou-me que já estava sendo debitado na conta corrente de alguém. Ligamos para o proprietário dizendo que desejávamos regularizar a situação, mas ele não conseguiu localizar o antigo inquilino. Por fim, deixamos tudo como estava, porquanto era mais cômodo, acreditando que as coisas um dia resolver-se-iam. E, de fato, a situação se resolveu – da pior maneira possível.

Passei a tarde em um café que fornecia acesso à internet e, quando cheguei em casa perto das 22h, não havia o que fazer sem eletricidade. O Felipe comprara velas e eu, uma lanterna. Deitei-me na cama e comecei a ler com a lanterna ligada criativamente pendurada na janela logo acima de minha cabeça. Um pequeno ponto luminoso se formou na vastidão do apartamento escuro. Mesmo ciente da presença de amigos nos quartos contíguos, a escuridão me deixou um sentimento de solidão repentina. Acabara de sair da minha acolhedora Porto Alegre, onde havia deixado família e amigos e onde tinha conhecido uma pessoa muito especial naquele fim de semana específico. Senti-me só, ouvindo apenas os ruídos longínquos dos carros lá fora na madrugada, sem luz ou distração e sem qualquer interesse pelo livro aberto iluminado na minha frente. Apenas só.

Ali deitado, lembrei-me do dia em que saí para caminhar com Daniel, um até então conhecido que gentilmente me hospedou na capital suíça em minha primeira passagem por aquele país. Era noite e atravessamos uma praça completamente escura, discutindo fé, graça e Deus. Nunca vira um breu tão intenso na rua e não conheço até hoje cidade grande no Brasil com iluminação tão reduzida à noite. Eu reclamava para Daniel que não entendia nem confiava muito em Deus. Quando percebi, tinha atravessado uma praça desconhecida apenas seguindo o barulho dos passos de um amigo recente sob uma iluminação praticamente nula. Percebi que confiar em Deus era algo parecido e que meu salmo de confirmação (Salmo 37.5) fazia sentido.

Pensando nisso, dei-me conta então que eu não estava sozinho em meu quarto escuro. Não estou sozinho e amanhã é um outro dia, pensei. Joguei o livro no chão ao lado da cama e comecei a escrever sobre o que tinha pensado.

2 comentários:

Edmar Hell Kampke - Mazinho disse...

Verdade! Nunca estará sozinho! Excelente texto Kang!

Humberto disse...

pra solidão são bons uns Karaokes lá no Bonra, mas aviso que são meio dificeis de entrar, além disso vc pode apareçer um dia no restaurante da minha namorada, tem um delicioso bulgogi, e o kimchi também é memorável, e mata as saudades da terrinha, como percebe eu fui conquistado pelo estômago, rs
abraços