Recentemente andava extremamente desanimado com a quantidade de pequenas e grandes tarefas que se avolumavam para mim em São Paulo. As obrigações de mestrando, que já são suficientes para ocupar uma vida, somavam-se à preocupação com as monitorias para os alunos da graduação e ao projeto junto ao governo do Estado em que tenho trabalhado. Como se não bastassem, compromissos com a Igreja adicionavam ainda mais peso.
Mais do que pelas horas de trabalho, o que mais me deixa nervoso é a perda de foco e concentração devido às muitas atividades pequenas. Também a percepção da incapacidade de fazer tudo como deveria ser feito é exasperante. Um certo perfeccionismo e talvez uma excessiva exigência em relação ao próprio desempenho deixam uma pessoa enfurecida quando se percebe que, mesmo dedicando todo o tempo disponível para as atividades, é impossível executar tudo com excelência.
Incomoda-me profundamente também que algumas de minhas atividades são enfadonhas ao extremo. Outras ainda, como a monitoria, são até agradáveis. Mas com a falta de concentração e tempo, é impossível estar sabendo a matéria tanto quanto os alunos esperam (ou tanto quanto eu gostaria de saber para me sentir realizado). Não consigo não me importar com trabalho mal feito, seja devido às minhas próprias exigências, seja devido às supostas exigências dos outros. E assim, com o tempo escasso restante, fica difícil estar satisfeito com a própria dissertação, ao pensar no quanto ela poderia ter melhorado não fossem os outros afazeres. As atividades da igreja recentemente têm me prejudicado, talvez por que eu mesmo exijo de mim mais do que realmente posso contribuir. E no fim das contas, mesmo minha espiritualidade vai para o saco com a falta de tempo. Muito trabalho, pouca reflexão, vida vazia. Jesus já alertara Marta sobre isso.
Não abri mão, no entanto, de atividades de lazer com amigos no fim de semana. Importante, é verdade, principalmente quando me conformo por um momento que não conseguirei fazer tudo como quero. Fácil então se entregar na hora de se decidir pelo lazer e, também, pelo erro do excesso de lazer. E assim, também não consigo descansar de fato. Descanso a mente, mas não o corpo.
Abri agora pouco um livro de teologia, enquanto não conseguia dormir pensando em tudo que preciso fazer. Bonhoeffer, meu guru teológico, fala das últimas e penúltimas coisas. Não vou explicar. Mas isso me fez pensar na minha semana vindoura. Um pouco de ânimo surgiu e alguma vontade por disciplina.
Vou fazer o que puder. Lembrar que o projeto junto ao governo, embora chato ao extremo, é útil e ajudará pessoas necessitadas. Jesus sempre falou dos pobres e somos chamados realmente a ajudá-los – por amor e para preparar o caminho para que a graça chegue a todos. Tentarei ajudar meus alunos da monitoria. Deveriam ter um monitor melhor, não alguém que busca aprender a econometria que não estudou na graduação. Mas não posso fazer mais do que posso. Meu esforço não pode ser apenas para que eu consiga me sentir bem, mas como serviço ao próximo. Não posso querer ser competente e esforçado apenas para reforçar meu ego, nada é mais angustiante que isso, porque o ego é ganancioso.
Talvez aí Deus me ajude. Preciso escrever um texto para o Conselho Mundial de Igrejas e milhões de idéias vêm a minha cabeça. Mas de que maneira estarei servindo a Cristo? Se não conseguir enxergar isso no dia-a-dia, como escreverei sobre isso? Certamente, estarei mais apto a escrever quando meu ódio ao mundo se desvanecer e amá-lo do jeito que ele é, com todos os seus defeitos. O que vejo de errado no mundo deve continuar sendo visto como errado, mas a minha reação não pode ser daquele que se sente pessoalmente incomodado. Não pode ser uma resposta raivosa e vingativa, para quem o mundo incomoda por não satisfazer meus desejos egoístas. A injustiça existe e minha reação deve ser de amor a esse mundo, onde Deus quer que sinais de graça estejam presentes. Não pode ser o desejo de puni-lo simplesmente, de revoltar-se contra tudo. Agredir com raiva o que existe não leva às pessoas a mensagem da graça e do amor de Cristo pela humanidade. Talvez, por isso, não posso enxergar minha semana com raiva.
Um comentário:
Thomas;
Interessante esse teu post, pois estou passando por uma "crise existencial" semelhante.
Dentro do possível, nesse último ano, tenho tentato conciliar o mestrado com uma série de outras atividades que considero importantes, tais quais praticar atividades físicas regularmente e me alimentar bem, dormir sete horas por dia, ler um romance eventualmente ou ir ao cinema, fazer algum trabalho voluntário, manter-me minimamente sociável junto aos outros.
No entanto, nos últimos dias, tenho me perguntado se não há chegado a hora, enfim, de focar-me completamente em poucos objetivos, a fim de, pelo menos neles, atingir algum nível de excelência. É como se, a cada atividade extra que fizesse, como tomar um sorvete na esquina, eu pensasse no custo de oportunidade que isso tem sobre, digamos, meu desempenho acadêmico.
Afinal, qual o limite da nossa capacidade de conciliar atividades?
Sigo a pensar...
Abraço!
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