domingo, 26 de abril de 2009

Ânimo em meio à turbulência

Recentemente andava extremamente desanimado com a quantidade de pequenas e grandes tarefas que se avolumavam para mim em São Paulo. As obrigações de mestrando, que já são suficientes para ocupar uma vida, somavam-se à preocupação com as monitorias para os alunos da graduação e ao projeto junto ao governo do Estado em que tenho trabalhado. Como se não bastassem, compromissos com a Igreja adicionavam ainda mais peso.

Mais do que pelas horas de trabalho, o que mais me deixa nervoso é a perda de foco e concentração devido às muitas atividades pequenas. Também a percepção da incapacidade de fazer tudo como deveria ser feito é exasperante. Um certo perfeccionismo e talvez uma excessiva exigência em relação ao próprio desempenho deixam uma pessoa enfurecida quando se percebe que, mesmo dedicando todo o tempo disponível para as atividades, é impossível executar tudo com excelência.

Incomoda-me profundamente também que algumas de minhas atividades são enfadonhas ao extremo. Outras ainda, como a monitoria, são até agradáveis. Mas com a falta de concentração e tempo, é impossível estar sabendo a matéria tanto quanto os alunos esperam (ou tanto quanto eu gostaria de saber para me sentir realizado). Não consigo não me importar com trabalho mal feito, seja devido às minhas próprias exigências, seja devido às supostas exigências dos outros. E assim, com o tempo escasso restante, fica difícil estar satisfeito com a própria dissertação, ao pensar no quanto ela poderia ter melhorado não fossem os outros afazeres. As atividades da igreja recentemente têm me prejudicado, talvez por que eu mesmo exijo de mim mais do que realmente posso contribuir. E no fim das contas, mesmo minha espiritualidade vai para o saco com a falta de tempo. Muito trabalho, pouca reflexão, vida vazia. Jesus já alertara Marta sobre isso.

Não abri mão, no entanto, de atividades de lazer com amigos no fim de semana. Importante, é verdade, principalmente quando me conformo por um momento que não conseguirei fazer tudo como quero. Fácil então se entregar na hora de se decidir pelo lazer e, também, pelo erro do excesso de lazer. E assim, também não consigo descansar de fato. Descanso a mente, mas não o corpo.

Abri agora pouco um livro de teologia, enquanto não conseguia dormir pensando em tudo que preciso fazer. Bonhoeffer, meu guru teológico, fala das últimas e penúltimas coisas. Não vou explicar. Mas isso me fez pensar na minha semana vindoura. Um pouco de ânimo surgiu e alguma vontade por disciplina.

Vou fazer o que puder. Lembrar que o projeto junto ao governo, embora chato ao extremo, é útil e ajudará pessoas necessitadas. Jesus sempre falou dos pobres e somos chamados realmente a ajudá-los – por amor e para preparar o caminho para que a graça chegue a todos. Tentarei ajudar meus alunos da monitoria. Deveriam ter um monitor melhor, não alguém que busca aprender a econometria que não estudou na graduação. Mas não posso fazer mais do que posso. Meu esforço não pode ser apenas para que eu consiga me sentir bem, mas como serviço ao próximo. Não posso querer ser competente e esforçado apenas para reforçar meu ego, nada é mais angustiante que isso, porque o ego é ganancioso.

Talvez aí Deus me ajude. Preciso escrever um texto para o Conselho Mundial de Igrejas e milhões de idéias vêm a minha cabeça. Mas de que maneira estarei servindo a Cristo? Se não conseguir enxergar isso no dia-a-dia, como escreverei sobre isso? Certamente, estarei mais apto a escrever quando meu ódio ao mundo se desvanecer e amá-lo do jeito que ele é, com todos os seus defeitos. O que vejo de errado no mundo deve continuar sendo visto como errado, mas a minha reação não pode ser daquele que se sente pessoalmente incomodado. Não pode ser uma resposta raivosa e vingativa, para quem o mundo incomoda por não satisfazer meus desejos egoístas. A injustiça existe e minha reação deve ser de amor a esse mundo, onde Deus quer que sinais de graça estejam presentes. Não pode ser o desejo de puni-lo simplesmente, de revoltar-se contra tudo.  Agredir com raiva o que existe não leva às pessoas a mensagem da graça e do amor de Cristo pela humanidade. Talvez, por isso, não posso enxergar minha semana com raiva.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Notas sobre a Suécia

Escrevi sobre todos os países pelo qual passei em fins do ano passado, à exceção da Suécia. Injustiça com os suecos, outro povo que consegue, sabe-se lá como, manter elevado padrão de vida para a sua população. Diferentemente dos noruegueses, são mais parecidos com o que temos em nossa imaginação. São mais fechados, apertam mais seus casacos durante o frio, escondem-se em suas casas em meio à neblina. Foram gentis, mas um pouco frios.

Cheguei direto vindo de Oslo, onde tinha conhecido belas gurias. Kil (pronuncia-se Xil) é uma pequena cidade no interior, onde meu amigo Mattias é pastor. Estávamos perto de Karlstad, na região oeste da Suécia, onde a secularização estranhamente não é tão forte. Mattias é um cara legal e me levou pra conhecer os lugares e conversar um pouco, além de me oferecer um colchão. Conversa pouco mesmo, o assunto às vezes acaba, ele é o típico esterótipo do pastor sueco. Pela manhã, fomos a uma das igrejas em que ele trabalha. Curiosamente, lápides cercavam a igreja. Nos jardins, ao lado da porta, em todo o lado. Cemitérios na Suécia ficam realmente junto à igreja, um costume no mínimo interessante. Despedi-me à noite e parti em direção a Estocolmo.

Logo que cheguei em Estocolmo, dei de cara com um "Welcome to Stockholm, the capital of Scandinavia". Arrogante talvez, mas de fato Estocolmo é a maior cidade da região, com cerca de 1,5 milhão de habitantes espalhados em uma vasta área coberta por trens e metrôs. Minhas amigas Jenny e Elin lá me esperavam e, assim, fui recebido na casa da Jenny com uma bela refeição tipicamente sueca. Rena, batatas e um monte de coisas que nunca saberei o que eram.

Jenny tem dois irmãos. Uma quase nem falou comigo (estava um pouco doente), enquanto o outro, um piá de 9 anos, estava nitidamente envergonhado com a minha presença. Aos poucos, ele começou a falar inglês de forma surpreendente. É triste quando você percebe que suecos de 9 anos falam inglês tão bem quanto você e isso é normal. E quando ele tem 20, como um cara que eu encontrei no trem, ele tem o inglês dez vezes melhor que o seu. Tudo bem, o cara que eu encontrei no trem estava lendo Paulo Coelho em sueco e foi assim que começamos a conversar, mas ele era gente boa. Voltando ao moleque, ele se soltou, mas sumiu em direção à cozinha. Minutos depois, enquanto notícias sobre hockey apareciam na TV sueca e passávamos para o canal finlandês, o irmão de Jenny reapareceu. Ele, o pequeno Martin, trouxera consigo uma bela esfera branca que ele segurava com as duas mãos. Uma bola de neve.

Olhei pasmo para a bola de neve que ele estava me oferecendo como presente. Jenny explicou que Martin soubera que um brasileiro vindo da selva e que nunca vira neve estava chegando pra passar dois dias na casa deles. Com medo que não nevasse na semana que eu chegasse (o que de fato se confirmou), ele fez a bola de neve na semana anterior e guardou no congelador. Uma surpresa divertida definitivamente. Crianças muitas vezes nos fazem rir de forma realmente espontânea.

Passeei por Estocolmo e vi que a cidade era bonita, embora estivesse frio e infelizmente escuro. Mulheres bonitas também, mas não como as norueguesas simpáticas e lindas de Oslo. De qualquer forma, pude conhecer um pouco dos costumes de Natal da Suécia, suas atividades e costumes. Assisti inclusive um espetáculo musical de Natal em uma igreja velhíssima de madeira e pude cantar hinos em sueco. Um costume muito comum entre os suecos é cantar em conjunto. Algo da igreja que ainda restou no costume, embora Deus há muito já esteja enterrado para a maioria deles. Uma pena: belos hinos que poucos ainda cantam de coração.

Amigos meus estão na Suécia agora e talvez possam contar melhor o que ocorre por lá através desse blog, mas eu espero um dia poder voltar e ficar mais tempo por lá e aprender mais sobre esse curioso povo.